domingo

Pizindin


Jazz? Que nada! A boa música nacional dos 'Batutas Brasileiros'



Irineu de Almeida ( Pixinguinha) fixou residência na 'Pensão Viannaa', orientando de perto os progressos do menino flautista. Animado com o talento do filho, o velho Vianna importou da Italia uma flauta especial que custou a fortuna de 600$000 (Seiscentos Réis). Surgia mais um músico na familia Vianna. Levado pelo irmão China, que tocava violão, Pixinguinha, com apenas quatorze anos foi contratado para o conjunto da Concha, uma casa de chopp que havia na Lapa.

O 'flautista de calças curtas', como era conhecido nas quermesses e festas familiares, logo ganhou fama na vida noturna carioca. Propostas superiores aos 6$000 diários que ele recebia na Concha surgiram e ele foi tocar no Ponto, no ABC e no Cassino. Tocava até de madrugada, entusiasmando todos com seu sopro e imaginação. Mas isso era de noite. De dia, ele continuava um moleque não dispensava os jogos de pipa, bola e pião, além dos cigarros que fumava escondido, agora comprados com o seu dinheiro e ao seu gosto, e não mais os fortes roubados da vó Edwiges, chamados, à época de 'fuzileiros navais'.

E lá estava o Pizindin empinando o seu papagaio quando aparece um cidadão bem vestido e bem falante, trazendo um convite do violonista Arthur Nascimento, o Tute, para tocar com a orquestra do Maestro Paulino Sacramento, no Teatro Rio Branco. Meio assustado, foi saber do que se tratava.

-- Paulino, aqui está o flautista de quem lhe falei - disse Tute
-- Isso aí? Esse molecote? Flautista??? Tá mais precendo um galetinho! - espantou- se o diretor diante da figura comprida, desengonçada e de calças curtas que Tute guiava pelo pescoço.

No dia seguinte, no primeiro ensaio, a reação de espanto do maestro só não foi maior do que a dos músicos bigodudos, preocupados com as páginas e páginas de partitura, que viam Pixinguinha tranqüilo, soprando limpo e bonito a música inteira, em perfeito entendimento com o resto da orquestra.

-- Pegou tudo na antena. Nem olhou prá partitura! - comentou um.
-- Eu disse prá vocês que ele era um batuta - acrescentou Tute.

Assim, Pixinguinha garantiu o seu lugar na orquestra que tocaria na peça "Chegou Neves", com o melhor que existia de elenco naquela época. A notícia correu pela cidade: no Teatro Rio Branco havia um prodígio de flautista. Formou- se na platéia uma espécie de torcida, principalmente nas matinés de domingo, quando Pixinguinha fazia solos, acrescentando improvisos à cada nova apresentação.