terça-feira

Fantástico em Pernambuco


Esta semana será realizado na UFPE o evento Fantástico em Pernambuco, para quem é interessado na literatura fantástica. A literatura de E. T. A. Hoffmann, Edgar Allan Poe, entre outros, será abordada, e também elementos fantásticos na música romântica, cuja responsabilidade é minha.

Tenho o prazer de convidar todos a assistir e comentar.
Acessem o blog para ver as datas e locais.

http://fantasticoempernambuco.blogspot.com/

Abração!

sexta-feira

Cem Anos Sem Mahler

Gustav Mahler (artista não identificado)

Salve, Mahler, gigante da música, disseminador de verdades eternas para seus irmãos humanos.

Pedindo desculpas, caro leitor, pela demora em escrever sobre o centenário do encantamento deste grande poeta da música, deixo aqui uma lembrança e um pequeno incentivo para o conhecimento de sua obra colossal. Lembrando que minha apreciação da música não é cronológica, nem o meu conhecimento da morte é cronológico (aliás, quando é a minha morte mesmo?).

Gustav Mahler é uma figura central para a música do século XX, artesão de finas obras de arte sonora, e inspirador para grandes revoluções. A capa de mártir, de que já falamos com Schubert, também lhe é atribuída: Mahler é considerado um santo, pela vida completamente dedicada à música.

A verdade é que esse homem é uma das figuras mais laboriosas da história do artesanato musical. Tudo o que escreveu tem um toque de grande artesão, cada linha melódica, cada combinação tímbrica, tudo está no lugar. É um trabalhador consciente do efeito que deseja causar com sua arte. E toda ela é assustadoramente forte.

Forte abraço, leitores!

Ouça:

Canção da Terra (Das lied von der Erde)

As canções de Schubert

O viajante sobre o mar de névoa, de Caspar David Friedrich (1818)

Franz Schubert é um desses exemplos que a História toma para chamar de Gênio. Sua morte prematura, seu caráter “angelical”, serviram para lhe trazer uma aura divina, assim como são divinos Mozart e Chopin. Vivemos, ainda hoje, conseqüências dos ideais da Era Romântica do século XIX. E essa é a época em que o artista, antes de tudo, é a representação de sua própria arte. Os temas macabros, sobrenaturais, trágicos – tudo isso atraía os artistas românticos. Adoecer e morrer jovem eram glórias que os eternizavam, e trazem para o nosso tempo a ideia romântica de Mito.

Afora toda essa fumaceira, vejo em Schubert um grande melodista. É difícil não ficar com uma melodia sua na cabeça, dada a habilidade que ele tinha em manipular esse material. Pra mim, pouco conhecedor que sou, o coração da obra de Schubert está em suas canções. O que fez nas Sinfonias e nos Quartetos de Cordas, tudo me parece inspirado na canção. Aliás, ele próprio tomou canções suas como tema para o quarteto A Morte e a Donzela e o quinteto A Truta. Tudo canta nessa música.

Nas suas canções, Schubert expõe seu gosto literário, sua natureza de músico popular, sua alegria, sua angústia, sua fé, e assim retrata uma época.

O lied, como é dito em alemão, é basicamente uma canção escrita sobre um poema, para voz e piano, em uma integração forte entre música e poesia. O piano tem papel significativo, pois não só fornece a base para o cantor: ele comenta, interroga ou afirma o que diz o poema, através de recursos harmônicos, melódicos ou de intensidade, criando o cenário para a estória cantada. Esse recurso seria levado a um alto nível em algumas das criações de Robert Schumann, cuja vida foi realmente a de um homem romântico.

O lied criou uma linhagem durante o romatismo alemão, passando pelas peças de Brahms e Hugo Wolf e chegando à grandiosa expressão emocional de Gustav Mahler. Mahler criou lieder acompanhados por orquestra, ao invés do piano, o que traz mais um fator expressivo: o timbre dos instrumentos comentando o texto. Me parece que também em Mahler, o núcleo da obra está nas canções. Mahler incluía em suas sinfonias motivos de suas canções, freqüentemente canções inteiras, colocando a voz em peças tradicionalmente instrumentais. Sua Canção da Terra representa o ápice e também o fim de uma era, assim como abre novas portas para o futuro.

O lied continuou no século XX na obra dos compositores atonais Schönberg, Webern e Berg e nas Quatro últimas canções de Richard Strauss, colega de geração de Mahler, talvez uma das derradeiras peças desse caráter, em uma época de caos e de busca de novas formas musicais. Paradoxalmente, é nessa época que se começa a recuperar as canções de Schubert, que são gravadas em discos, reeditadas, e divulgadas com aquela aura romântica que persiste no público, que agora compra essa música, vinda de um tempo remoto, e que não apresenta a confusão da música de Boulez e Stockhausen, que adotaram a música vocal de maneira bastante peculiar. É a época de apreciar a música do passado: o presente não importa, a não ser para alguns artistas de ouvido atento. E a música de Schubert não é nada caótica para os espíritos de maior “bom-gosto” do público.

Cantar e ouvir Schubert da maneira correta é praticamente impossível, pois não temos como resgatar uma época perdida no tempo. Mas a beleza da música persiste, embora muita coisa possa ser considerada açucarada ou piegas. Mas o que fica é uma sensibilidade admirável e uma habilidade espantosa com o material musical.

Um abraço, amigo leitor!

Ouça
Alguns Links para o Youtube

A Morte e a Donzela (Der tod und das Mädchen), cantada por Julia Culp.
A Truta (Die Forelle), cantada por Elisabeth Schwarzkopf.
Para a Música (An die Musik)
Rei dos Elfos (Erlkönig), em interpretação impressionante de Dietrich Fischer-Dieskau.
Serenata (Städchen), cantada por Werner Güra.
Os ciclos de canções A bela moleira (Die Schöne Müllerin), O canto do cisne (Schwanengesang), Viagem de inverno (Winterreise).

Quarteto de Cordas n. 14 em Ré menor (A Morte e a Donzela), tocado pelo Takacs Quartet.
Quinteto com Piano em Lá maior (A Truta), tocado por Clifford Curzon e membros do Amadeus Quartet.

Ouça também


Amor de Poeta, op. 48 de Schumann.
Quatro canções, op 17, de Brahms.
Canção da Terra (Das lied von der Erde), de Mahler
Sinfonia n.4, de Mahler.
Gurrelieder, de Schönberg.
Quatro últimas Canções, de Richard Strauss.
O martelo sem mestre (Le marteau sans maître), de Pierre Boulez.

Bibliografia e discografia

CANDÉ, Roland de. História universal da música (Vol. 2). São Paulo: Martins Fontes, 2001. 2 vol.

GROUT, Donald; PALISCA, Claude. História da Música Ocidental. Lisboa: Gradiva, 2007. 5 ed.

KOSTKA, Stephan; PAYNE, Dorothy. Harmonia tonal com uma introdução ao século XX. 4 ed.


Leise flehen meine lieder. Coletânea de canções de Schubert, cantadas por Gundula Janowitz, Dietrich Fischer-Dieskau e outros. Disco, Deutsche Grammophon.

“Trout”Quintet; “Death and the maiden” Quartet. Christoph Eschenbach, Koeckert-Quartett e Amadeus-Quartet. CD, Deutsche Grammophon.

A bela moleira. Ciclo de canções. Hermann Prey, barítono. Enciclopédia Salvat dos Grandes Compositores. Disco, Philips, 1981.

MULHER E PÁSSARO DENTRO DA NOITE

Como explicar essa arte? Cores e linhas, formas? O que tem nessa arte?

Talvez não queira fazer sentido, apenas sugerir um sentido que o próprio observador tenta dar, e tenta buscar na infância, no esquecido. Enquadram por aí em Surrealismo. Corro dos rótulos. São apenas didáticos.

Segundo encontrei, Mulher e Pássaro... de Miró está datado de 1947. Obra bastante simplificada com relação à chuva de cores e linhas de outras obras, como as já mostradas por aqui.

Que tal observarmos juntos essa arte, e conversarmos?

MIRÓ


Artista do subconsciente, Joan Miró. Poeta do impensável nas linhas e cores. Joan Miró i Ferrà, catalão de nascimento, palmesano de morte. Em seus novent'anos de vida (1893-1983) criou uma arte singular e inexplicável. Mas como todos precisam definir o que é sua arte, falou-se dele como surrealista. Além de pintor, escultor.

Como sou ainda um curioso da arte, pouco conheço desse criador; no entanto, o que conheço, divido com todos vocês, e espero aprender com suas opiniões.

Salve, Miró. Bem vindas as suas obras às cores do meu imaginário.

quarta-feira

IONISATION

Números e constelações em Amor com uma Mulher, de Juan Miró

Essa semana ouvi Ionisation, de Varèse. Uma música construída apenas por instrumentos de percussão. Espanto. Onde achar melodia, onde achar forma, onde se segurar? A primeira audição, a primeira folheada na partitura, tudo ainda muito verde, mas não posso deixar de compartilhar contigo essa primeira impressão.

Ionisation é uma obra de arte de identidade própria, com a grande riqueza da combinação dos sons percussivos criando uma paisagem sonora peculiar, como na pintura de Kandinsky e Miró.

Ionização, título que associa o fazer música com a química. Assim como os antigos, Varèse sabia do poder mágico de sua arte. Música e alquimia eram coisas interligadas em tempos passados, como na Renascença e no Barroco. A música era a verdadeira Harmonia do Universo. A ciência foi avançando tanto pra um lado, a música tanto pra um outro, que uma não precisa mais da outra. E o século XX e o nosso século são épocas extremamente científicas. Tudo a ciência explica.

Talvez Ionisation queira retomar esse elo perdido entre música e ciência.

Ouve Ionisation. Pelo menos uma coisa que Ionisation pode te trazer: teu ouvido vai mudar, pra melhor ou pra pior, mas vai mudar. Novas observações virão, minhas e de outras pessoas. E gostaria que tu, caro leitor, me corrigisse no que faltei e expressasse tua opinião também.

Link para Ionisation (Youtube)

Lucas Oliveira de Moura Arruda.

Edgar Varèse


Edgar Varèse nasceu em Paris em 1883; faleceu em Nova York em 1965. Em seus oitenta e dois anos de vida, presenciou guerras, mudanças radicais no mundo da arte, e foi o precursor de várias tendências da música da segunda metade do século XX: música eletroacústica, experimentalismo. Questionou as regras da música ao conhecê-la a fundo, criou suas regras, sem precisar explicá-las. Talvez daí venha o pouco conhecimento de sua obra, porque a música do século XX ainda precisa de explicações. Infelizmente, ouvir não é o suficiente. Todos têm preconceitos e conceitos do que é a "melhor música". A música Culta, ou a música Popular. Infelizmente esses conceitos pesam na hora de ouvir uma música fora de qualquer desses esquemas.

Ouça Varèse. Sem conceitos.

terça-feira

MIRÓ

Interior Holandês, 1928