quarta-feira

Seminário Carrión apresenta ao Recife grandes violonistas

Olá amigos leitores. Agora em setembro, de 14 a 18, será realizado pelo Conservatório Pernambucano de Música o II Seminário de violão José Carrión, homenagem ao saudoso músico e professor, formador de tantos talentos musicais de nossa terra. Vindo da Espanha, trouxe para nós a herança da Moderna Escola de Violão, que teve como grande bandeira Francisco Tárrega. Foi por muito tempo professor de Violão e Violoncello no Curso de Música da Universidade Federal de Pernambuco. Entre tantos que com ele estudaram e guardam boas lembranças, estão Djalma Marques, Mauro Maibrada, Dinara Pessoa, Henrique Annes, Vital Joffily, Napoleão Costa Lima.

O evento contará com a presença célebre de Mario Ulloa, professor de Violão da UFBA, Henrique Annes, Vital Joffily, e o espanhol Paco Fernández, guitarrista flamenco espanhol trazido pelo Instituto Cervantes. Além daqueles que estão construindo carreiras de sucesso, como Newton Messias, Ricardo Arôxa e João Paulo Pessoa. Virá também o luthier Lúcio Jacob com suas novidades em instrumentos.

Serão masterclasses, palestras e recitais. Teremos na programação desde o repertório consagrado do violão - o Concerto de Aranjuez, solado por Mario Ulloa; até músicas contemporâneas, como os Impromptus de Richard Bennett, tocados por João Paulo Pessoa, e a Libra Sonatina de Roland Dyens, tocada por Ricardo Arôxa.

A programação está no site:
http://www.eventos.mus.br/seminariocarrion/

As inscrições para os masterclasses devem ser feitas no site, e os concertos e recitais são totalmente de graça.

Abraço.

sábado

Bertrachte, Meine Seel, de Bach

Caravaggio: Flagelação de Cristo, 1607


"Considera, minha alma", faz parte da Paixão Segundo São João, de Johann Sebastian Bach. É uma meditação sobre o sofrimento de Cristo com sua coroa de espinhos. O pequeno arioso (canção para solista) é escrito para voz masculina de Baixo, com acompanhamento de duas violas d'amore, alaúde e órgão. Música essencialmente barroca pelo conflito interno extremamente torturado. A música é essencialmente pictórica, representando por meio de sons o que normalmente vemos em pintura. É um aspecto essencial da música barroca e da obra de Bach. Assim, a instrumentação, a harmonia, a curva melódica, tudo isso é pensado com um propósito: expressar estritamente a idéia de um texto.

No barroco cada instrumento possui uma carga de simbologia, algo exprssado pelo seu simples uso em uma música. Do mesmo modo se tratavam as vozes humanas, as combinações melódicas, os gestos musicais. Para o texto áspero sobre Cristo, Bach utiliza voz de Baixo, que sempre representa o Cristo nas Paixões e Cantatas de Bach; e um alaúde, em seu tempo já um instrumento arcaico (embora Bach tenha lhe dedicado algumas peças, como transcrições de suítes para violoncello e violino). A sonoridade áspera do alaúde pode ser considerada uma representação dos espinhos da coroa dolorosa. Um aspecto extremamente belo da observação dessa música. Mais impressionante é observar que, graficamente, a coroa também está representada pelo alaúde, escrito em clave dupla.

Esse aspecto é essencial para compreender a música de Bach em si e a música barroca. Algo que pode hoje ser considerado até mesmo infantil, para aquela época fazia sentido e muitas vezes constituía o motivo para uma composição. A gente tem de se lembrar que na época não havia televisão, nem cinema; o modo de descrever as coisas, de captar o movimento de alguma coisa, era muito mais limitado - pintura, escultura, literatura e, principalmente, a música, o teatro e a dança tinham esse papel.

Algo que podemos entender não só para saber ouvir a música barroca, como para saber criar a nossa música, a música do nosso tempo, como fez Bach no seu tempo.

Ouça
Bertrachte, Meine Seel, de Bach : Clique aqui

quarta-feira

AS SEIS CORDAS

Picasso: Violão (1913)

O Violão
Faz soluçar os sonhos.
O soluço das almas
perdidas
foge por sua boca
redonda.
E, assim como a tarântula,
tece uma grande estrela
para caçar suspiros
que bóiam no seu negro
abismo de madeira.

La guitarra
hace llorar a los sueños.
El sollozo de las almas
perdidas
se escapa por su boca
redonda.
Y como la tarántula
teje una gran estrella
para cazar suspiros
que flotan en su negro
aljibe de madera.

Federico García Lorca