sábado

Lucas Oliveira interpreta Elomar (Teatro Arraial)

10 de novembro de 2016. Teatro Arraial Ariano Suassuna, Recife - PE.
Apresentei, com Maria Oliveira e a Camerata dos 7 Guias o recital "Lucas Oliveira interpreta Elomar". Gratidão, gente, pela dedicação e força nesse trabalho. Gratidão, Anny Rafaella, que realizou o convite e nos deu um tratamento maravilhoso. Gratidão a Rossane Nascimento e Tati Rabelo, pelo apoio com a liberação das canções. Gratidão ao mestre Elomar, pelo tanto que nos ensina com sua música.
Gratidão aos amigos que levaram energia e luz: Tito Edson, Teca Leite, Sidcléa Cavalcanti, Michelle Pacheco, os alunos da escola Carlos Alberto G. Almeida (trazidos pelo SESC Sta. Rita). A presença da família de Ingrid Guerra foi especial.
As fotos foram feitas com sensibilidade e inteligência por Chris Schug.
Camerata dos 7 Guias
Eneyda Rodrigues e Ingrid Guerra, flautas
Vinícius de Farias, acordeom
Erivelton Nunes, violino

Laís de Assis, viola nordestina
Zé Freire e Aurélio Silva, violões
ATENÇÃO MINHA GENTE:
apresentaremos novamente o recital semana que vem!
DIA 25 DE NOVEMBRO (SEXTA-FEIRA), 16h
Conservatório Pernambucano de Música.
Av. João de Barros, 594.Recife - PE.

terça-feira

Lucas Oliveira: "Cantiga de amigo" (Elomar Figueira)

Em 20 de novembro de 2015, apresentei no Conservatório Pernambucano de Música o recital Lucas Oliveira interpreta Elomar, um dos resultados de minha imersão na obra do compositor brasileiro Elomar Figueira Mello. O recital foi apresentado também na Universidade Federal de Pernambuco, na Usina Cultural ENERGISA em João Pessoa, na Escola Técnica Estadual de Criatividade Musical de Recife; e no Festival Lourival Batista, na cidade de São José do Egito - PE.

O vídeo que segue é um dos números do recital apresentado no Conservatório: a Cantiga de amigo, na qual o compositor Elomar demonstra a influência que sofreu da literatura medieval. 

Apesar do que o título sugere, a canção não é feita estritamente nos moldes da cantiga de amigo medieval, que, apesar de serem de autoria de homens, o eu-lírico das canções é uma mulher, que retrata seus sofrimentos amorosos durante a espera por seu amigo, o homem amado (ver aqui artigo sobre as cantigas de amigo).

A cantiga de Elomar é muito mais livre: quem fala em primeira pessoa é um homem, e a mulher é tratada como a amiga pela qual ele espera. A mulher aparece também como madre, figura que nas cantigas galego-portuguesas é a mãe da mulher que fala na cantiga, e a quem se queixa por sua desilusão amorosa. No caso da cantiga de Elomar, a madre amiga é má, pois “mentiu jurando amor que não tem fim”. A canção é uma das representantes da vertente castiça, ou culta, do português, na obra de Elomar, que também transita pelo uso da vertente popular sertaneja da língua portuguesa (ver palestra da Profa. Jerusa Pires Ferreira, disponível aqui, acerca da influência medieval na arte de Elomar).



No recital registrado neste vídeo, contei com a presença especial de bons malungos:

Maria Oliveira e Edson Marques: vocal
Eneyda Rodrigues e Inrgid Guerra: Flautas
Laís de Assis: viola brasileira
Ivo Aurélio Silva: violão (6 cordas).
José Freire Neto: violão (7 cordas).

O arranjo da canção foi adaptado do arranjo feito por Carlos Catuípe para ser gravado por Diana Pequeno em seu LP Eterno como areia, de 1979.

A filmagem foi feita por Michelle Pacheco.

A todos, uma ótima semana.

As pétalas vocais de Maria Juliana



Olá, minha gente. Hoje venho aqui comentar o disco da cantora paraibana Maria Juliana Linhares, PÉTALAS VOCAIS, que está prestes a ser lançado ao público. Pra começo de conversa, afirmo que o conteúdo do disco faz jus ao título. Juliana traz onze pétalas, onze facetas da flor de sua voz, de sua rica personalidade como cantora e como pessoa. Uma das perspectivas pelas quais se pode olhar o disco (diminuindo o zoom, em perspectiva fractal) é a extensa pesquisa vocal e expressiva da cantora. Embora haja uma clara unidade na sua técnica, percebe-se que cada nova canção merece um recurso diferente, uma entoação diferente: uma delicadeza maior, um nervosismo maior.

Aumentando o zoom novamente, contemplamos a segunda perspectiva, a do repertório, que conta com composições de criadores paraibanos. Erivan Araújo, Naldinho Braga, André Morais, são bem representados entre vários outros (ela mesma também compõe). O voo de Juliana é impulsionado pela diversidade das temáticas. A questão ambiental, em ‘Canto de guerreiro’, a inspiração criativa que custa a chegar, em ‘Ao poeta que não consegue escrever’, o divertido encontro entre duas almas negras, em ‘Escurinho no velório de Michael Jackson’.

A contrapartida da pesquisa vocal da cantora está na terceira perspectiva, a dos arranjos. Elaborados por Michel Costa e executados por um time de músicos feras, também apresentam uma bela diversidade de coloridos, indo da suavidade de ‘Alegria de farol’, passando pelo peso de ‘Escurinho no velório de Michael Jackson’, o forró pé-de-serra ‘Beijo de moça’, até o lamento rasgado de ‘Chuvosa’.

Enfim, o disco é uma flor multicolorida, forte e vigorosa em suas raízes, e em suas asas, pois é uma flor-pássaro. Cabe ao ouvinte alimentá-la com amor, segurar em suas asas, e voar junto.

Lançamento do CD PÉTALAS VOCAIS
Teatro Paulo Pontes, João Pessoa - PB
Sábado, dia 19/09/2015
20:00h
R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (estudante)

O disco está disponível pra quem quiser ouvir, aqui:
goo.gl/MIFa50 

sábado

JORDI SAVALL E A DISCO-GRAFIA DOS SÉCULOS


Como reviver sonoridades da vida de tempos antigos? E por quê? O músico catalão Jordi Savall i Bernadet é uma das pessoas que vêm dedicando uma vida inteira para achar essas respostas. Em mais de quarenta anos de carreira, ele vem realizando um relevante trabalho de pesquisa, execução e registro fonográfico de músicas de séculos atrás. Um trabalho de “arqueologia” e recriação de sonoridades perdidas no tempo, e que deixaram apenas vestígios em papel. Savall é um virtuoso da viola da gamba e do rebab, instrumentos de cordas friccionadas. Sua pesquisa tem dezenas de parceiros, que integram, ou já integraram, os grupos fundados por ele: o Hespèrion XXI, o grupo vocal La Capella Reial de Catalunya e a orquestra Le Concert des Nations.

Entre os primeiros discos de Savall com o Hespèrion XX estão El Barroco Español (1978) e Llibre Vermell de Montserrat (1979), que resgatam a música antiga espanhola, além de Cansós de Trobairitz (1978), que revisita composições de mulheres “trovadoras” da Idade Média. Esses discos fazem parte de dez que o grupo lançou dentro coleção da gravadora EMI, Reflexe: stationen europäischer musik (“Reflexos: épocas da música europeia”). Editada nos anos 70 e começo dos 80, a coleção de mais de meia centena de discos teve a presença de nomes célebres da “música antiga”, como Hans-Martin Linde e Thomas Binkley. Os citados títulos do Hespèrion XX já trazem a parceria fecunda com a soprano Montserrat Figueras, falecida em 2012, que foi esposa de Savall e mãe de seus filhos. Estes, atualmente, são também parceiros do pai. Outros nomes de destaque durante toda a trajetória do Hespèrion XX são os alaudistas Hopkinson Smith e Rolf Lislevand, conceituados solistas do instrumento; o percussionista Pedro Estevan, que até hoje faz parte do grupo; e o maestro e organista Ton Koopman, que, entre as décadas de 90 e 2000, com a Orquestra e Coro Barroco de Amsterdan (The Amsterdam Baroque Orchestra & Choir) realizou a tarefa prodigiosa de registrar em discos o ciclo integral das cantatas de Johann Sebastian Bach (1685-1750).

Os discos e concertos mais recentes de Savall realizam um diálogo cada vez mais forte entre as diferentes culturas do planeta. Entre eles, Ludi Musici: o espírito da dança 1450-1650 (coletânea de registros feitos entre 1997 e 2006) e Jerusalém, a cidade das duas “pazes”: a paz celeste e a paz terrestre (2008). A sonoridade do Hespèrion XXI passa a ser ainda mais abrangente, incluindo instrumentos como o ud árabe (ancestral do alaúde europeu) e o santur persa (instrumento de cordas percutidas com dois martelinhos). Em consequência de seu trabalho, em 2008 Savall e Montserrat Figueras receberam da UNESCO o título de “Artistas pela Paz”.

Em setembro deste ano de 2014, o maestro estará visitando Recife e Olinda. No dia 5, vai ministrar pela manhã um masterclass no Conservatório Pernambucano de Música e, à noite, fará um concerto com Andrew Lawrence-King (harpa) e Enrike Solinís (tiorba), pela MIMO – Mostra Internacional de Música em Olinda (programação – clique aqui). O masterclass tem como título O diálogo das almas, e deve tratar justamente dessa troca entre as músicas do Oriente e do Ocidente. Quem sabe o diálogo musical pode ajudar a salvar o nosso mundo do preconceito e da violência entre os povos?

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Esta postagem está sendo publicada também no blog Quadrada dos Canturis (quadradadoscanturis.blogspot.com.br/). Agradeço a atenção dos amigos Dassanta e Violeiro do Sertão, administradores desse blog.

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Confira (clique nos títulos) algumas gravações com direção de Jordi Savall:

1.
(do disco Cansós de Trobairitz,1978;
cantam: Josep Benet e Montserrat Figueras)

2.
Llibre Vermell de Montserrat: Stella Splendens in monte
(do disco Llibre Vermell de Montserrat, 1979)

3.
Llibre Vermell de Montserrat: Mariam Matrem Virginem
(do concerto de 2013)

4.
Monteverdi: L'Orfeo
(ópera representada em 2002)

5.
Jerusalén: a cidade das duas “pazes”
(concerto de 2010)

domingo

Alonso Mudarra: Fantasia XXV (octavo tono)

Boa noite, pessoal. Aqui, interpreto a Fantasia XXV do compositor renascentista espanhol Alonso Mudarra (ca. 1510-1580). Música original para vihuela, instrumento "ancestral" do nosso violão moderno, com afinação muito parecida. Esta peça está incluída em seus Tres libros de musica en cifras para vihuela (Sevilha, 1546). Foi adaptada das tablaturas antigas por mim, com a orientação do prof. Mauro Maibrada (UFPE), em 2009.

Trabalhei a peça no masterclass do prof. Daniel Wolff, durante o III Seminário de Violão José Carrión, no Conservatório Pernambucano de Música, tendo apresentado-a na audição de encerramento do evento em 31 de maio de 2014.

sexta-feira

A SAMICO


Minha homenagem ao admirado Gilvan Samico (nascido em 1928), falecido nesta segunda-feira, 25 de novembro.

"Alexandrino e o pássaro de fogo", xilogravura de Samico (1962). 42,7x51,7 cm. Foto de João Liberato.

Mais sobre ele, e fonte da imagem: AQUI.

A xilogravura ilustra a capa do primeiro disco do Quinteto Armorial: "Do romance ao galope nordestino" (Discos Marcus Pereira, 1974).

Faziam parte do Quinteto: Antonio Madureira (viola nordestina), Antonio Carlos Nóbrega (rabeca e violino), Egildo Vieira (flautas), Edilson Eulalio (violão) e Fernando Torres Barbosa (marimbau nordestino).


AQUI: Ouça o Quinteto Armorial tocando "Mourão", de César Guerra-Peixe e Clóvis Pereira.

domingo

JOÃO PERNAMBUCO E HEITOR VILLA-LOBOS


João Pernambuco e Heitor Villa-Lobos: dois músicos distintos, dois universos que se opõem e se refletem. Ambos intuitivos e guiados pela curiosidade. Ambos formados pela vivência de sua arte.

João Teixeira Guimarães (1883-1947), natural de Jatobá (atual Petrolândia), no sertão pernambucano, viveu sempre humildemente. Aprendeu a cantar e pontear a viola nas feiras do Recife, com os violeiros e os cantadores. Observava, ouvia. Heitor Villa-Lobos (1887-1959), carioca, teve a formação básica em música com seu pai. De espírito aventureiro, fugia de casa para freqüentar serestas e rodas de choro, no tempo em que isso dava cadeia. Nessas aventuras, aprendeu muita coisa. A série monumental dos Chôros é o testemunho mais próximo disso, bem como a música para violão.

João mudou-se para o Rio de Janeiro em 1904, após a morte de sua mãe. Foi lá que recebeu o apelido de “Pernambuco”. A vida era difícil de ganhar: trabalhava como operário. Por outro lado, nas rodas de choro e serestas, tornou-se célebre, fazendo amizade com Pixinguinha, com o qual integrou o conjunto Os Oito Batutas, Donga, Catullo da Paixão Cearense e Villa-Lobos.

Villa-Lobos era grande amigo e admirador do violonista pernambucano. Em declaração cedida a Hermínio Bello de Carvalho, em 1957, afirmava que “Bach não se envergonharia de assinar seus estudos [de João Pernambuco]”. A referência aqui é a Johann Sebastian Bach (1685-1750),  compositor barroco alemão, de melodias expressivas que deram a Villa-Lobos a inspiração para a série das nove Bachianas Brasileiras, com várias formações instrumentais. Realmente, Bach se encantaria com a alma sentida das melodias e harmonias de João Pernambuco, que são verdadeiros achados. O violão é explorado de forma muitas vezes inusitada, utilizando cordas presas e soltas, associadas a acordes fixos deslocados cromaticamente. Exemplo disso é o seu choro Brasileirinho:

João Pernambuco: Brasileirinho, c. 17 a 20. (Ed. Turibio Santos)

João é autor de canções de ouro, como Luar do Sertão e Estrada do Sertão (esta última com letra de Hermínio Bello de Carvalho, colocada anos mais tarde). Melodias populares de beleza rara. Beleza comum à música cantada de Villa-Lobos. Exemplo inesquecível: a Bachiana Brasileira n. 5, escrita para orquestra de violoncelos e soprano. A Ária, primeiro movimento da Bachiana, foi transcrita para canto e violão pelo compositor a pedido de Olga Praguer Coelho. O interessante é que o pizzicato dos celos durante toda a música em sua versão original já sugere um acompanhamento de violão. (Vide: SANTOS, 1975, p 54).

A música para violão solo de Villa-Lobos, como a de João, também possui “achados” técnicos, bem como uma emoção contida. Um exemplo disso são os Estudos, de 1928, e os Prelúdios, de 1940. A mesma idéia de usar cordas soltas e presas e posições fixas que deslocadas criam novos acordes, é vista em toda sua música para violão:


 Villa-Lobos: Estudo n. 1, c. 15 a 18. (Manusctiro do compositor)

Dois grandes músicos, duas expressões de poesia e vida. A música de ambos merece ser ouvida e tocada pela sua beleza e riqueza.

*

Veja aqui mais sobre Villa-Lobos:

E sobre João Pernambuco:

Ouça:

 

De João Pernambuco

João Pernambuco e Zezinho, violões, interpretam Magoado. Gravação de 1929.

Alaíde Costa canta Estrada do sertão.
http://www.youtube.com/watch?v=zUn4jyCm0LU


De Villa-Lobos

Villa-Lobos, violão, interpreta seu Chôro nº 1.
http://www.youtube.com/watch?v=UZkEYK4WKKg&feature=related

Fábio Zanon, violão, interpreta o Estudo nº 1.
http://www.youtube.com/watch?v=xHGWBeCVGcM

Amel Brahim, soprano,
e Orchestre Du Violon sur Le Sable,
interpretam a Ária (primeiro movimento) da Bachiana Brasileira nº 5.

http://www.youtube.com/watch?v=NxzP1XPCGJE

Nana Mouskouri, soprano,
e John Williams, violão,
interpretam a Ária (primeiro movimento) da Bachiana Brasileira nº 5.

http://www.youtube.com/watch?v=CdXXQBd--4M

Turíbio Santos, violão, interpreta o Concerto para violão e orquestra.
http://www.youtube.com/watch?v=6mDmCnAwBEk&feature=relmfu

 
*
 
Discografia

SANTOS, Turíbio. Chôros do Brasil. Rio: Tapecar, [1977].

SANTOS, Turíbio; Orquestra de Câmara de Jean-Fraçois Pallard. Concerto pour guitare et orchestre... França: Erato 1970

ZANON, Fabio. Villa-Lobos: Obra completa para violão solo. Rio: Biscoito Fino, [2010].

ADOLFO, Antonio (piano); Nó em pingo d’água (conjunto). João Pernambuco: 100 anos. Rio: FUNARTE, [1983]. Coleção Projeto Almirante.


Bibliografia

LEAL, José de Souza; BARBOSA, Artur Luiz. João Pernambucano: arte de um povo. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1982.

TAUBKIN, Myriam (org.). Violões do Brasil. São Paulo: Edições SESC São Paulo, 2007.

SANTOS, Turíbio. Heitor Villa-Lobos e o violão. Rio: Museu Villa-Lobos, 1975.

PEREIRA, Marco. Heitor Villa-Lobos: sua obra para violão. Brasília: Musimed, 1984.

quinta-feira

PARA DÉRCIO MARQUES, VIOLEIRO.


 Foto da contracapa do disco Canto forte: Coro da primavera, de 1979.

Só é cantador quem traz no peito 
o cheiro e a cor de sua terra, 
a marca de sangue de seus mortos 
e a certeza de luta de seus vivos...

François Silvestre, cantador.

Dércio Marques encantou-se em 26 de junho. Deve estar hoje, quase um mês depois, cantando, já entrosado, com São Gonçalo nas paragens do céu, para além da consciência e da consistência. De cantar, violeiro nenhum para, mesmo desencarnado do frágil corpo terreno. Nunca.

Dércio Marques é pra mim uma figura especial.

Eu, em menino, ouvia um disco: Criança faz arte, de Doroty e Dércio Marques, em que ele cantava Pega-pega, de Paulo Gomes. Essa música nunca saiu da minha cabeça, e sempre estava presente nas coisinhas mais divertidas que eu fazia. Em todas as brincadeiras, lá estava cantando:

Entardeceu,
Ai que vontade de brincar de pega-pega,
De macaca,
De comer goiaba,
De trepar no muro,
De soltar uma raia...

E eu era aquele menino, me sentia o próprio cantor.

Anos mais tarde, conhecendo a música de Elomar, vim encontrá-lo na gravação, de 1983, do Auto da Catingueira, do poeta baiano. E me lembrei do disco que eu ouvia quase até furar! E (re)descobri esse “malungo alegre, de alma manêra”. E redescobri o disco. Resgatei o disco de mãos maldosas. Quem quiser saber a história, só falando comigo, que é longa.

A impressão que tenho de Dércio é de uma voz de amigo, voz de abraço forte de num largar mais, voz que tinha pra dizer de coisa boa, de conversa, de amores, de tristeza,  tudo com uma firmeza e honestidade espantosa e natural.

Que pena que não o vi de perto. Talvez cantássemos juntos! Talvez cantemos, sim; no dia (espero que tarde) em que, como ele, me encantar, me desencantar desse mundo. Me esfarelar desse chão.

Mas ninguém me deixou
E eu nem pude brincar.

 *

Ouça Dércio Marques cantando:

Canto do Ipê amarelo (Roda gigante), de João Bá.

Riacho de areia / Beira-mar.

Serra da Boa Esperança, de Lamartine Babo.
http://www.youtube.com/watch?v=uOw3ux0qt1o

Mais sobre Dércio Marques:

sábado

Assim cantavam os antigos gregos

Safo e Alceu (de um antigo vaso grego)

"Adoro viver e cantar esta canção,
e quando morrer,
Ponham a minha lira aos meus pés
e as flautas sobre minha cabeça
E toquem".

sexta-feira

HOMENAGEM A NARA LEÃO


Se estivesse viva, Nara Leão teria completado ontem 70 anos de idade. A capixaba foi uma das figuras mais importantes da nossa Música Popular Brasileira. A serenidade dos olhos escondia uma mulher de ideais firmes. Cantora de voz livre, participou de muita coisa boa, sem nunca se prender a nenhum rótulo: foi musa da Bossa Nova, cantora de protesto, gravou um disco tropicalista, e ajudou muita gente boa a aparecer junto com ela: é só lembrar do sucesso que fez cantando A Banda, música de Chico Buarque, no Festival da Música Popular Brasileira, na TV Record, em 1966, o que alavancou também a carreira do amigo. Também cantou com João do Vale, Fagner, Roberto Menescal. Em seus 47 anos de vida (mais de vinte de carreira), deixou 26 discos gravados, onde mostra toda a graça de sua voz e o bom gosto na escolha do seu repertório. Uma voz pra lembrar sempre. Salve, Nara.

Ouça:

Nara canta Joana Francesa, de Chico Buarque.
http://www.youtube.com/watch?v=n7HEB2bqn5M

Nara canta com Fagner Penas do Tiê, de domínio público, em adaptação de Fagner.
http://www.youtube.com/watch?v=NOMpjbDgpzk

Nara canta A Banda, de Chico Buarque.
http://www.youtube.com/watch?v=88L73B4sLQU&feature=related

Nara canta Carcará, de João do Vale.
http://www.youtube.com/watch?v=4poHPINYuFQ